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Em 2016, tive a honra de participar do painel intitulado “A Interface da Medicina Assistencial e Medicina do Trabalho na perspectiva da gestão e economia da saúde” no 16º Congresso da ANAMT. Cinco anos se passaram, e desde então vejo que esse tema torna-se cada dia mais obrigatório na Gestão da Saúde Corporativa. Nos últimos meses, catalisado pelas alterações das NRs e também pela nova realidade imposta pela pandemia de Covid-19 , acelerou-se esse processo de transformação, ou melhor de integração, gerando uma excelente janela de oportunidade para a reorganização e melhoria na Saúde Corporativa.

“Um sistema fragmentado desenhado para obter os resultados que obtêm”

Vivemos em um sistema de Saúde Suplementar extremamente fragmentado e ineficiente, com percentual alto de desperdício e falhas na qualidade. Em 2017, o IESS divulgou um estudo que descreveu que as despesas assistenciais das operadoras médico-hospitalares somaram R$ 145,4 bilhões (2017). Deste gasto estimou-se que cerca de R$ 27,8 bilhões se perderam com fraudes e desperdícios representando 19,1% desse total, comprometendo a qualidade da assistência, as finanças do setor e onerando os contratantes de planos de saúde. 

Além disso, o atual sistema é ineficaz na gestão integral da saúde dos indivíduos. Isso se deve a inúmeros fatores. Dentre os quais, chama atenção uma cultura centrada no consumerismo de procedimentos, com foco em serviços e não na pessoa, além de um baixo nível de coordenação do cuidado, em especial nas situações crônicas e que envolvem mudanças de estilo de vida. 

Por outro lado, a saúde ocupacional nos últimos anos se tornou extremamente burocratizada e muito fragmentada, distanciando-se do seu propósito inicial.

Isso faz com que as organizações tenham uma dupla carga de custo: gastam cada vez mais com os planos de saúde e também com a saúde ocupacional. A crise econômica, deflagrada a partir de 2015, despertou nos gestores de saúde corporativa a necessidade de se repensar o modelo e criar soluções para essa realidade.

A Transformação Epidemiológica

Nas últimas décadas o mundo do trabalho sofreu mudanças significativas. Com a adoção de novos processos produtivos desencadeou-se uma transição epidemiológica. No passado as doenças profissionais mais frequentes eram as decorrentes de exposições ambientais aos agentes físicos e químicos como ruído, poeiras, substâncias químicas etc. Elas ainda continuam ocorrendo, mas sua incidência e gravidade foram significativamente superadas pelos distúrbios musculoesqueléticos e os transtornos mentais, decorrentes de condições ergonômicas precárias, mas também por toda uma transformação socioeconômica experimentada pela sociedade brasileira. Essas mudanças vem gerando a cada dia um aumento da incidência de transtornos mentais, do abuso de substâncias, de sedentarismo e de sobrepeso e obesidade. Isso também ocorreu em outros países. Nos EUA, o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) criou o Total Worker Health. Nestas diretrizes, leva-se em conta o foco no risco de adoecimento dos trabalhadores, aumentado pela exposição a agentes nocivos ocupacionais e pelo estilo de vida não saudável , sendo que os trabalhadores de maior risco de exposição a agentes nocivos são também os mais predispostos a ter estilos de vida não saudáveis. Portanto a adoção de programas amplos que incluem bem-estar e estilo de vida, gestão de doenças crônicas e reabilitação juntamente com saúde e segurança no trabalho podem trazer resultados significativos em termos de custos de assistência médica e aumento de produtividade.

A Atenção Primária à Saúde integrada a Saúde Ocupacional

A organização que conseguir integrar a Saúde Ocupacional com um serviço eficaz de Atenção Primária à Saúde (in company ou near site) criará uma sinergia que permitirá: 

  1. Cada colaborador ter um plano de cuidado único e personalizado, que garanta tanto o cumprimento da parte legal relacionada a NR7 (PCMSO) mas também das especificidades de um plano de cuidado assistencial . O médico de família poderá ser o médico examinador do PCMSO;
  2. Utilizar novas tecnologias (TIC) que incrementem o auto cuidado e facilite o acesso do colaborador à equipe de saúde multidisciplinar (assistencial e ocupacional) facilitando a adesão e a literacia em saúde;
  3. Otimizar a solicitação de exames complementares que hoje podem estar sendo feitos em redundância, gerando custos desnecessários e até mesmo riscos como exposição à radiação ou complicações de procedimentos (prevenção quaternária);
  4. Redução da perda de tempo dos colaboradores para assistência através da aplicação prática do conceito de “one stop shop” visto que uma unidade bem desenhada de Atenção Primária à Saúde (APS) resolve pelo menos 80% das demandas da população que assiste;
  5. Quando o colaborador necessitar de utilizar serviços de atenção secundária ou terciária, a Unidade APS juntamente com equipe de Saúde Ocupacional irão apoiá-lo na navegação na rede prestadora, reduzindo a fragmentação. 

Diante de toda os pontos descritos anteriormente, não há dúvidas de que a criação de um modelo integrado entre Atenção Primária à Saúde (APS) e a Saúde Ocupacional são a grande oportunidade de se resgatar a integralidade e otimizar a promoção da saúde , segurança , qualidade assistencial e utilização de recursos na saúde.

Eliton Souza

Graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário UniAcademia. Assessor de comunicação da Healthmap.

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